segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Dica do dia #2

Se vais ao ginásio regularmente e tens a possibilidade de alugar um cacifo no ginásio... fá-lo.*


Eu acho que vou escrever uma comédia só com base nas minhas idas ao ginásio. Hoje foi o cúmulo da taralhoquice... Ora, por onde hei-de eu começar?

Antes de mais hoje houve greve no metro, pelo que só começava a funcionar por volta das 11:30h. Mas antes disso... Hoje foi o primeiro dia de aulas do 2º semestre. Segunda-feira é um dia light, só tenho uma aula das 10 às 12h, e como era o primeiro dia a coisa não passou duma apresentação geral, conteúdos programáticos e sistema de avaliação (a professora saiu-me cá um prato...! Com uma atitude super-divertida, bem humorada, fez-me lembrar imenso a minha amiga D. que morava em frente à feira da ladra, lembras-te?). Saí mais cedo, ainda fiquei na conversa com umas colegas (umas novas, outras já do semestre passado) e depois fui andando para o ginásio.

Ora bem, há que inserir mais uns pormenores... Eu hoje tive um ataque de nostalgia da época em que andava muito de saltos altos (e como também era uma das minhas resoluções de ano novo...), hoje achei que era uma boa altura para me voltar a habituar a andar de saltos. Portanto, hoje decidi ir de saltos altos para a faculdade.
Só que enquanto outras pessoas falam em saltos e pensam nuns saltinhos, eu não levo a coisa pela metade... E levei estes meus novos amiguinhos:

Blanco

São estáveis e gosto imenso deles, mas o dia começou logo escorregadio... Enquanto ia a caminho da faculdade arrependi-me alguns milhares de vezes (talvez tantas vezes quantos passos dei!): o chão da minha avenida estava assustadoramente húmido e escorregadio, não encontrei 1m de calçada a direito que fosse e quase torci o pé umas boas dezenas de vezes. Resultado: chegar à faculdade foi um número de equilibrismo digno da melhor trapezista do Cirque du Soleil!

Com isto tudo, claro que cheguei ligeiramente atrasada, o que vale é que, graças à greve, a professora ainda chegou um bocadinho mais atrasada do que eu.

Ora então, no final da aula, vou eu apanhar o metro para o ginásio (já a fazer contas à vida e com um sorrisinho malicioso nos lábios a pensar que o meu regresso a casa já iria ser feito de ténis e não de saltos altos - ah! Malditas pedras da calçada que não se mantém direitas e não deixam uma rapariga parecer elegante a andar de saltos altos!) e pumba! Portas do metro fechadas. Bolas! Bem, como supostamente a greve terminava às 11:30h e eram 11:28h... Espera-se um bocadinho, certo? Errado. À boa maneira portuguesa, até a greve se atrasa. As portas do metro abriram ao meio dia. Menos mal, como era a hora a que eu era suposto sair das aulas, ainda ia muito a tempo.

Lá fui eu de metro, tchoc tchoc tchoc, toda contente e entalada (porque claro que o primeiro metro tinha de vir a ABARROTAR de gente, tudo sardinha em lata), e quando já estou mesmo a meia dúzia de passos (já dolorosos) do ginásio, joguei a mão ao bolso e pensei: "Merda! Deixei o cartão do ginásio no bolso do outro casaco!". Ah, pois é. Depois de tanto sofrimento não ia morrer na praia! Fui ao balcão, com o meu ar mais comprometido de sempre e pedi ajuda ao senhor que lá estava. Ao que parece é algo a que eles já estão bastante habituados e só tive de preencher um papelinho e emprestaram-me um cartãozinho para ir fazer a minha aulinha de spinning (sim, a mesma onde quase desmaiei na sexta-feira passada).

E lá estou eu, toda contentinha nos balneários a tirar a minha t-shirt para fora, os ténis, as peúgas e... "Merda! Deixei as calças em casa!"

Ai... Lá fui eu, cabisbaixa, ao balcão devolver o cartão, sem querer acreditar no meu azar depois de tanta dificuldade para lá chegar (mas já de ténis calçados, ao menos isso!). Agradeci ao senhor e encolhi os ombros tristinha:
  —Olhe, afinal não me esqueci só do cartão, também me esqueci das calças...
  —Ah, mas se quiser eu tenho ali uns calções e empresto-lhe! Quer?
Ora, que resposta darias tu? Calções de um senhor que não conheces? Fazer uma aula de calções? Nada me preparou para as palavras que saltaram da minha boca em seguida:
  —Ah, e acha que me servem?

Ahahah! Ainda não acredito que perguntei isso... Ahahahah! Bem, o senhor sorriu, disse que achava que sim e foi buscá-los. Voltou com uns calções de homem pretos da Nike (nos segundos em que esperei entrei em pânico, só me vinham à cabeça calções de licra, calções de maratonista, enfim... 30 por uma linha!):


Agradeci-lhe imenso, fiquei de os devolver depois da aula, enfim, lá vou eu de novo a caminho dos balneários. E a caminho dos balneários caio em mim: "Merda! A minha depilação não está nos seus melhores dias!". Ou seja, não estava mal, mas está naquela fase em que os pêlos já se vêm claramente, embora ainda não dê para tirar. Ora ora... "Pensa rápido Ana Rita, que com este filme todo não vais voltar atrás e dizer ao senhor que já não queres os calções..." Com o meu melhor espírito de desenrascanço a funcionar tive a ideia genial de deixar os collants que tinha vestidos (eu estava de vestido) por baixo dos calções! Isto teria sido uma solução fantástica se excluirmos o pequeno pormenor de eu estar com uns collants vermelhos. Mas mesmo vermelhos. Vermelhíssimos.

Bem vistas as coisas, podia ser pior. Eu podia estar com uns collants às riscas, às florinhas, às bolas ou até mesmo aos corações (sim, eu tenho uns collants brancos com corações vermelhos. Ah! E imagina que eu estava com os collants do natal! Aqueles que simulam umas meias de liga! Oh, meu Deus! Podia ter sido MUITO PIOR!)...! Portanto lá fui eu para a aula de t-shirt branca, calções pretos (e tu sabes que os calções são aquela peça de roupa que NÃO funciona de maneira alguma no meu corpo! Estes eram mesmo rés-vés, se fosse o número abaixo a coisa já não se dava), collants vermelhos (vermelhíssimos, opacos), ténis pretos e cabeleira ruiva (sim, que com o sol parece que estou um bocadinho mais ruiva ainda). Parecia uma freak. Isto tudo para uma aula onde toda a gente já me conhece como a rapariga que quase desmaiou... Enfim... Dizia eu que não gostava de dar nas vistas, não era?! Socorro!

No meio disto tudo ainda me apercebi que também me tinha esquecido do elástico, o que vale é que tinha uma fita de cabelo comigo e atei mal e porcamente o cabelo com ela (para piorar um bocadinho o ar freak). 

Na aula toda a gente mandou piadinhas, que o médico não estava lá desta vez, se eu tinha trazido açúcar e bolos, a professora pediu-me logo que ao mínimo sinal de má disposição a avisasse (e não me deixou fazer algumas partes mais puxadas da aula...!), houve colegas a imitar a minha calma na aula a avisar a professora que estava a ter uma quebra de tensão (para as que não tinham lá estado e assistido), houve ainda quem brincasse com o facto do médico e me dissesse que eu só podia voltar a ter uma quebra de tensão daqui a muitos meses porque iam fazer uma listinha entre as senhoras para poderem ser todas socorridas por ele e eu como já tinha sido agora ia para o fim da lista... Enfim... Bobinho da corte. Tás a ver o género, não estás?

A aula decorreu sem peripécias e para desilusão de muitas famílias não voltei a repetir a gracinha e não me senti mal no final.

Desfiz-me em agradecimentos ao senhor da recepção, tentei que ele me deixasse levar os calções para os devolver lavadinhos, mas ele garantiu-me que não era preciso preocupar-me porque tinham a lavandaria à disposição...

Saí de lá a pensar o quão importante é ter um cacifo nos balneários recheadinho com todas as coisas que eventualmente podemos esquecer. Mesmo. Esse vai passar a ser o meu objectivo a curto prazo: arranjar lá um cacifo. Porque por outra destas não dá para passar!

A seguir liguei à minha mãe e fartámo-nos de rir. Realmente, acontecem-me coisas do arco da velha! E ao falar com ela cheguei à conclusão que o que senti quando fui para a aula com aquele belo coordenado improvisado era muito parecido àquilo que senti quando tinha cerca de cinco anos de idade e (já não me lembro dos pormenores do acontecimento) tive de voltar da escolinha para casa com uns calções emprestados que eram de outro menino que ainda por cima era mais pequenino e me ficavam super curtinhos e apertados. Lembro-me de vir de mão dada com o meu pai para casa e de me sentir tremendamente injustiçada e humilhada não tanto pela pequenez dos calções brancos emprestados mas pelo que o rapazinho (mais novo que eu, há que reforçar essa ideia) me disse: "Ah, não te preocupes, eu trago sempre um par extra de calções porque também faço sempre xixi nas cuecas." Raios partam o miúdo! A querer ser simpático, só me irritou mais! Eu nunca fiz xixi nas cuecas e o facto de ter precisado de outra peça de roupa para voltar para casa tinha sido um triste acaso que nunca mais se repetiu. Bolas, nunca mais me esqueci disso. Incrível. 

E hoje, por momentos, quando me olhei ao espelho antes de ir para a aula juro que me senti tal como nesse dia, há muitos anos atrás. E quase que conseguia ouvir o miúdo a dizer "Não te preocupes, eu trago sempre um par de calções extra para estas ocasiões"...


A.R.



*A não ser que a tua casa seja na porta ao lado do ginásio...

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