Já perdi a conta a quantos papéis deitei para o lixo nos últimos dias, quantas vezes peguei na pá e na vassoura para varrer, quantas coisinhas pequenas arrumei no devido lugar e quantas folhas organizei, arquivei e arrumei.
Eu tenho tendência para acumular tralha, é verdade, mas 90% da tralha que eu acumulo é papel: sejam apontamentos da faculdade, fotocópias de livros, cartões de lojas, postais, panfletos, programas de teatro, bilhetes de espectáculos, e mil e um rabiscos e frases anotadas em guardanapos, contas de restaurante ou talões multibanco, listas intermináveis de compras de supermercado ou afazeres do lar e, volta e meia, uma pequena história que não pude deixar de registar. No meio disto tudo já consigo convencer-me de que não vou precisar destes papéis e deito-os fora, mas quando chego a estas pequenas histórias/observações/ideias que espontâneamente aponto no primeiro papel que apanho... Não dá. Dou por mim a dobrá-las e a pô-las numa caixinha junto a tantas outras de que me vou esquecendo e quando passado algum tempo pego nelas e as leio, não consigo deixar de sorrir. A maior parte delas, acabo por me lembrar, embora no geral já tenha perdido a recordação dos pormenores, por isso é sempre giro relê-las. Foi o caso desta, que encontrei esta manhã, datada de 12 de Novembro de 2011 (não foi assim há tanto tempo quanto isso...):
Existe um N que habita o pulso da minha camisola. É um N pequeno, dos seus dois milímetros de altura, que passa facilmente despercebido. Pode até ser confundido com um pequeno pêlo ou uma bolinha de cotão, mas não: é um N e não sei como foi lá parar.
É preto e vive numa risca branca, a última do braço direito da minha camisola, e desde que me apercebi de que ele está ali, vivo obcecada com ele: como foi ali parar? O que significa aquele pequeno N ali perdido? Estará a fazer falta nalguma palavra? Terá fugido de algum conto, de algum livro? Terá saltado atrás de algum perdigoto numa conversa de alguém?
É deveras intrigante, este pequeno N. Mas o que mais me intriga é porque terá ele escolhido a manga da minha camisola...
A.R.